Dicas para a Renata

Olá a todos. Olá Renata. Este nosso espaço pode e deve também servir como um help me para quem precisar de dicas, sugestões, ajudas.
No final da sessão de ontem a Renata conversou um pouco comigo, para ver se eu tinha alguma sugestão por causa de turma complicada que ela tem. Pelos vistos ela é a terceira a tentar fazer algo com eles este ano... só por aqui dá para entender o desafio. A nossa conversa teve depois de ser interrompida por causa do elevador colectivo que ia partir...
Bom, Renata, nisto a única coisa que cada um de nós pode dar são mesmo sugestões. Algo que pode funcionar muito bem contigo, pode não ter o mesmo efeito comigo, porque é óbvio somos todos diferentes.
Eu, numa situação como a tua, tentaria que essa energia deles revertesse a meu favor. Passo a explicar melhor: se o problema é de indisciplina porque são muito activos, desatentos, etc, etc, experimenta uma sessão de saltos, palmas, corridas logo no início. Afasta cadeiras e mesas e leva alguma música. Leva desde Manowar até samba, desde Trance até a música contemporânea mais caótica. A ideia é mesmo surpreende-los e aos poucos fazer com que sintam coisas básicas como pulsação e dinâmicas (saltos mais altos ou mais baixos, palmas mais enérgicas ou mais suaves). Faz jogos, divide-os em equipas e tenta que explorem a voz. Eles falam muito? então experimenta po-los a oscilarem a voz do grave ao agudo, do piano ao forte. E se for preciso poe-nos a gritar uns minutos... garantidamente depois sentirão necessidade do silêncio!
Eu já trabalhei em várias situações que à partida poderiam ser complicadas. Tentei sempre dar a volta. Uma vez um miúdo dizia um daqueles palavrões que não era suposto dizer com alguma insistência. Eu ignorei, porque aquilo era uma provocação para mim. Os colegas já se riam e por isso não pude ignorar mais. Surpreendi-os da seguinte maneira. Não o mandei para a rua. Aproveitei a gracinha dele. A palavra tinha três sílabas (agora tentas adivinhar qual seria...), e eu disse-a deixando todos de boca aberta. Depois pedi ao engraçadinho para a dizer, e ele a medo disse-a. Fiz uma divisão quaternária com palmas dizendo a palavra e acentuando sempre a primeira sílaba. Imagina que a palavra feia era Batata. O jogo foi dizer BA ta ta ba TA ta ba ta TA ba ta ta BA ta ta ba TA.... e fui continuando com o palavrão, fiz canone com quatro grupos, disse a palavra no registo grave, médio, agudo, forte, piano... e cheguei ao fim da aula, com todos bem animados e sobretudo com uma experiência musical onde sem saberem estavam a trabalhar canone, ritmo, divisão, dinâmicas, timbre.
O grande desafio dos AEC's é, no meu modesto pensar, o transmitir a base de toda a música sem a teorizar, nem a transformar num bicho de sete cabeças. É fazer com que os miúdos assimilem, através da vivência. Será importante saberem escrever a nota sol? Não sei. Para mim será bem mais importante auditivamente distinguirem algumas famílias de instrumentos, uma voz grave, uma aguda, um andamento rápido ou um ambiente textural de um melódico (sem terem de dizer estes palavrões).
Tenta, se achares que esse é o caminho, arrastar cadeiras e mesas, subverter a sala, guardar os cadernos e os lápis, usar o corpo, a voz e o espaço como intrumentos e surpreende-os com exercicios simples de palmas, jogos, audição.
Boa sorte!

Boa viagem!